sexta-feira, 9 de junho de 2006

Caminho

Foto: Auira








Todo dia
- diariamente

os dias “úteis” da semana
passam na ida...
passam na volta...
pelas janelas do carro que dirijo
o mesmo trajeto da ida é o da volta
na teoria, a mesma vista
o mesmo caminho
as mesma casas, as mesmas pessoas, mas
na prática, a mesma vida não é
nunca a mesma mente


Apesar de, mesmamente,
todo dia o caminho passar
pelas minhas janelas
quando eu passo pelo mesmo caminho
diariamente vejo dias incontáveis
luzes, tempos, diferentes por do sois
pessoas indo, pessoas vindo
bicicletas, crianças, velhos, moças, homens e cachorros
e vacas, muita vacas
que devem até ser as mesmas
mas nunca, nunca são os mesmos pensamentos
hoje pensei: - o que essas vacas sabem
da notícia que ouço pelo rádio
dos mais de cinco mil mortos
da Ilha de Bali, na Indonésia
Nada devem saber – pelo menos não essas vacas aqui do Vale
que as de lá devem saber do terremoto e da Tsunami
ao passo que as daqui nem o mar
- que pra mim, de carro, fica a umas duas horas daqui.
Dele elas nada sabem, quase como nada conhecem sobre carros
exceto que parecem uns bichos esquisitos, muito rápidos, que
diariamente passam por elas pelo chão duro de asfalto
(onde não nasce nem da erva daninha, muito menos do capim que elas gostam).

Mas vejo vacas, todo dia
na ida e na volta
porém, nem sempre as percebo
Prefiro as montanhas, as nuvens, as casas, as pessoas... mutantes.
E as placas (essas não mudam): “Assentamento Conquista”, “Área de Segurança Proibido Comércio”, “Penitenciária I”, “Pindamonhangaba”, “Taubaté”, “Vale Feliz”, “Rio Una”, “Penitenciária II”, “Tremembé”.

Imagino as pessoas dentro das casas
acordando, fazendo e tomando café
saindo para o trabalho ou já trabalhando
muito antes de mim

Na volta, vejo as roupas cansadas
secando ao sol, no varal.
Amanhã vem mais um dia
de trabalho, de suor, de medos e de coragens
este se encerra agora, no momento que o sol se esvai
por entre as fendas das montanhas
recolhendo suas luzes e seu calor
Assim como a mulher ou a criança
(Sem perder a esperança)
amanhã recolherá as roupas
da Conquista.

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