Foi a poesia com que apresentei a minha avó na noite de ontem. Àquela de quem já datilografei milhares de poesias - o que já foi ótimo na minha fase de adolescência. Ô saudade dessa Mulher!
Na seqüência coloco os demais da noite.
Respirem fundo, e, boa leitura:
Invocação
Quero um ritmo dissoluto
como já foi o teu, Manuel Bandeira,
e um conteúdo
feito de coisas quebradas e sujas.
Não, de quebradas não, mas quebradiças
e à mercê da agressão de um simples gesto.
Queria ser soldado... já não quero,
ser livre... já não posso,
ser pobre... não consigo.
De resto, tudo é fuga, não quero estar comigo
mas amo a noite,
o estrépito, as boiadas
que estouram em ampla fúria,
o vento, o vento rude nas latadas,
ciclones comunais, e o povo... nas casas fechado.
Mas não eu, que vou poeta
levar aos centros ciclonais meus versos,
pelo gosto de ver tanto lirismo preso,
assim! Despedaçado
Pelo amor
Apaixonei-me pelo amor
que era tão pouco e se quebrou
igual aquele anel de vidro
tiro de dardo
por profissão, a vida segue
ofício, ritual e febre,
escrevo sempre
Tempo, espaço
A chuva é uma insistência
Escrevo apenas isto,
Já é a Inspiração...
Se o corpo dói eu brigo
comigo e busco a Gaia Ciência,
nas asas da canção
Do nosso Cancioneiro
vêem as vozes melódicas
com algo de batuque
e aliteração
uma borboleta
ou anjo
beija-me as pálpebras
da alma que tenta ver
para além dos
calvários
Limpo
Vou me cobrir de lírios d’água
Com água banhante e limpante
com água
Limpo as pedras do fundo
resíduos que lanço fora
Exércitos de glóbulos brancos
lutam
e
vencem
escrevo, logo existo
escre/ver é respirar
ar
Já
já tranquei a porta
já rezei a rosa
já separei os documentos para o hospital
dei umas coisas
e esvaziei aquela gaveta antiga
Só não consigo parar de escrever e, portanto,
estou viva!