já não sou mais a menininha que cabia deitada no banco de trás do seu carro e olhava para o teto tentando adivinhar se a imagem e sensação daquele momento seriam para sempre lembrados...
Sim. Ficaram. Hoje sei que não serão esquecidos os momentos que tiveram essa preocupação, esse cuidado. Não me reconheço naquela menininha loura e bochechuda que só sei que fui pelas fotos que alguém fez, mas reconheço você pelas mãos registradas em imagens fixas e nelas reconheço também minha própria mão. Nossas semelhanças são tantas... Mas não conheço aquela menina que fui. Você sim, a conheceu melhor que eu.
Obedecendo a um ciclo que presumo natural também me reconheço em minha filha que dorme no banco de trás do carro enquanto dirijo fazendo o mesmo trajeto que já fiz tantas outras vezes como sua passageira. Revivo momentos já passados quando me flagro, no mar, ensinando-a a mergulhar por baixo das ondas grandes e esperar que passem, daquele mesmo jeito que você fez comigo um dia, em outra fase de minha vida. E assim é, como ondas que chegam constantemente, que as fases da vida chegam e vamos aprendendo com os pais a passar por baixo das ondas maiores, esperando que elas passem para poder voltar e respirar.
Hoje, dia dos pais, tento passar por baixo.
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