domingo, 26 de abril de 2020

Dentro de Mim existe um universo



Em minhas células vibram múltiplas folhas como as folhas de uma floresta em meio a chuva, ao vento e ao sol. Mas também vibra a cor de um cristal dourado, encravado fundo nas terras de cor vermelha que habitam os meus pés. E nas canelas moram peixes, que deslizam, sobem e descem, por vezes chegam no meu ventre, onde encontram o perfume das flores, que se espalham ao vento, com as nuvens... Dentro de mim, brilha um sol e uma lua, e infinitas estrelas. Dentro de mim há um vulcão prestes a entrar em erupção, mas há também uma montanha, coberta de neve, onde caem flocos em forma de mandalas reluzentes e geladas.

Dentro de mim há uma cachoeira, de mil metros, que desagua em um rio serpenteante entre cordilheiras. E pássaros e insetos, e repteis e mamíferos... E a onça, sempre na espreita.

Dentro de mim há todo o oceano, com seus mistérios profundos, e com inúmeros horizontes onde as gaivotas brincam incessantemente.

Dentro de mim está a força e a delicadeza dos meus antepassados, e também estão os caminhos de luz que desejo para minhas filhas.

Dentro de mim estão todos os sonhos e em cada célula vibra Amor. Dentro de mim estou eu.
(Texto de Auira Ariak, recebido após uma prática de yoga dança). Arte inspira arte.


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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Na falta de um abraço

Aconteceu hoje, a poucos minutos, mas pode ter acontecido mil vezes ou mais antes disso:

Eu na fila da delegacia aguardando para fazer um B.O. (nem perguntem, já está tudo resolvido e não foi nada grave), reparo que a mulher sendo atendida antes de mim está chorando enquanto relata o fato ocorrido.Desligo a música que estava ouvindo no headfone e passo a observar atentamente:
Ela é a Diana, negra, por volta de 25 anos, chora sentinda enquanto relata que um "cidadão" sem mais nem menos a abordou na rua simplesmete para xingá-la. Disse que ela era uma macaca e que tinha cabelo duro. Diana chorava sentinda, inconformada, lágrimas correndo pelos olhos, ele nem me conhece, nunca me viu, não sabe que sou deficiente... Tive muita vontade de levantar e ir dar um abraço dela, mas me contive - por padrões ridículos que estou tentando quebrar em mim. O atendente, branco e com cara de desdém ia perguntando coisas que apontavam para a culpa DELA: Você estava no meio da ciclovia? Você atrapalhou a passagem dele? Porque você estava sozinha? Você trabalha?
Ele subiu para imprimir o BO e ela ficou sentada na minha frente chorando. Finalmente consegui olhar para ela nos olhos e dizer: "Não deixe que essas pessoas estraguem seu dia, você é linda! Essa pessoa que é doente e tem os olhos podres, provavelmente tem uma vida tão ruim que só sabe maltratar os outros". Ela continuou chorando e dessa vez contou pra mim o que aconteceu, ela tinha saido para procurar trabalho, já estava voltando para casa e se deparou com esse ser desumanizado que a xingou, "sem mais nem menos". Pedi que a moça que estava limpando o chão trouxesse um copo d'água para Diana, a moça trouxe quase me xingando, como se eu tivesse pedido algo de outro mundo. Nenhum olhar de compaixão para aquela mulher chorando ali. Apenas desdém. Enviei para elas duas toda energia de amor que eu consegui me concentrar naquele momento, enviei meu abraço energético. Ela parou de chorar, mas continuou com uma cara de muuuito chateada.
Chegou minha vez de ser atendida. Comentei com o atendente "que absurdo", e ele me simplesmente disse que "a culpa é da família dela, que deixa uma pessoa deficiente sair sozinha". Não aguentei. - Como assim moço?  A culpa é dessa sociedade que não dá possibilidade  de educação e segurança para as pessoas. Quem tinha que não sair de casa era esse monstro sem noção que xingou ela.
De nada adiantou. Ele insistiu que a culpa é da família por deixar ela sair sozinha, que poderia ter sido muito pior, que ela poderia ter sido arrastada e maltratada.  Fiquei com vontade de gritar, chorar, correr. Mas me contive ainda. Única coisa que fiz foi vir pra casa e escrever isso aqui, pelo menos é algo. Queria ter dado um abraço na Diana. Ela é tão linda. Só me restou isso. É pouco, um abraço seria melhor. Sinto muito, me perdões, te amo, te agradeço. Fim.

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terça-feira, 23 de abril de 2019

Completei então 45 voltas ao redor do Sol. Penso: será que é o meio? Será que ainda tem mais metade do caminho pela frente, com sorte até um pouco mais. Mas, a julgar pelos meus ancestrais diretos, talvez só um pouco mais... De qualquer forma, o que sei até agora sobre mim é muito, mas também é tão pouco ainda.
Permitam-me essa reflexão pública, entre amigos, e,se quiserem me ajudar a complementar, agradeço. Até agora sei que sou uma mulher, menina, mãe, filha, estudante, professora, curiosa, sonhadora, amiga, calma, louca, irritada, divorciada, apaixonada, ativa, preguiçosa, bonita, feia, sociável, solitária, engraçada, distraída, focada, desorganizada, sou clareza e confusão... Sou divina e sou profana. Sou ariana, geminiana, aquariana, pisciana, sagitariana e, recentemente, soube que também taurina.
Sou regida por Vênus, Mercúrio,Lua e Júpiter. E amo o Sol e esse planeta azul cheio de água e montanhas!
SOU uma, Sou várias, sou inteira, sou partida - e sou chegada. Sou Eu e gosto de mim, assim mesmo, com tudo o que me cabe e quero ser muito mais, se as Deusas permitirem.



segunda-feira, 15 de abril de 2019

Porteira Fechada?

Sigo.  Peço proteção divina, e, sigo.  Percebo as possibilidades dos infinitos caminhos possíveis, sinto. São vários: trilhas, estradas, rodovias, uns sinalizados, outros nada... Prefiro as trilhas, vamos lá. Achei uma, duas, várias. Sigo. No escuro, torço pela Lua, de preferencia cheia, para que ilumine um pouco o chão.   Lembro que fazendo assim mesmo já cheguei em lugares interessantes, outros nem tanto. Tem trilha que parece que não vai dar em lugar nenhum, mas a gente insiste mesmo assim, pensando que de qualquer forma não será mesmo do jeito que a gente imagina. Nunca é.  Melhor não imaginar nada, mas como? De qualquer forma o caminho de volta sempre dá em um lugar que não é mais o mesmo e que acabo gostando mais que antes, mesmo que tenha voltado chorando para ele. Aí fico quieta por um tempo, e é bom. Recuperar forças, esvaziar a bolsa, colocar outras coisas que julgo necessárias, nova fase, novos caminhos, proteção divina, e a gente sempre segue novamente. Oitavando os acordes pra não ser exatamente igual. Opa, novas trilhas por ali, por aqui... Essa aí parece ser bem interessante, talvez dê em uma cachoeira, talvez em um abismo, mas tem a proteção divina, a gente pensa, se iludindo um pouco, provavelmente (mas bem que ajuda na confiança pensar assim).  Torce pela Lua  e vai. Tem uns vaga-lumes no caminho!  - "Bom sinal" - a gente pensa. Boa essa trilha, um pouco escorregadia, mas  a gente releva, pois o coração deu aquela acelerada boa e a adrenalina já vai fazendo um pouco de efeito. Pede proteção, de novo, - "quanta dependência" - sempre dá para voltar? Já não é mais uma afirmação, veja bem.

Trilha estranha, tava indo tudo bem, tinham flores bem cheirosas, raízes acolhedoras no chão formando escadas... mas, começaram umas pedras que precisam de certa destreza, e começo a duvidar se vai valer a pena um esforço maior. "Será que não tem um atalho..." Seria bom alguma certeza", uma placa dizendo alguma coisa,"100 km e você chega em um lugar que não vai se arrepender". Porra!100 kilómetros a pé! Já me arrependi então, melhor não ter placa nenhuma, bora curtir o caminho, qualquer coisa a gente volta. Ainda bem que não teve essa placa aí, não estou  tão desesperada assim por uma cachoeira ou sei lá o que valha tanto esforço. Cada coisa que a gente pensa quando está nesses caminhos.
- Ai! escorregando demais... pára um pouco, respira fundo. Reavalia. Opa, vaga-lume ali, acho que vi. Segue mais um pouco. Som de água! Tudo que eu queria, uma pausa no caminho, uma lua dessas não dá pra desistir não. Essas trilhas com uma clareira e uma bica boa são animadoras. Restabeleço. Sinto a proteção divina, tá tudo certo afinal. Já ta valendo a pena a trilha, mesmo sem placa, mesmo desencorajadora em alguns momentos. Percebo um atalho, sigo por ele. Vai que... chão macio, até demais, "desconfia", mas é tão tênue essa linha entre a intuição e a insegurança que o desconfiar vira quase um desafio. E sigo, mais rápido. Tá bom por aqui, quente e úmido, mas não demais. Eu gosto. E o cheiro enebriante vai tirando um pouco a prudencia, e a gente sobe rápido em uma pedra bem posta parece que de propósito bem ali, quase uma escada, onde deve dar para ver onde essa trilha vai dar, eventualmente. Mas, a pedra que parecia tão bem posta, desequilibra, bem embaixo dos meus pés. Tinha uma placa, deu tempo de ver bem, que dizia claramente, "porteira fechada", ou "fechei a porteira"... Que merda é essa?? - Ô, proteção divina?! - Ô, vagalumes, Ô, Lua, Ô, água? Vocês estão querendo me dizer o quê afinal? Me joga de volta para a trilha - por sorte macia e molhada, mas já não tão quente.  Fico zonza, caio novamente, tava tudo de um jeito e virou. Posso voltar agora?  Universo está sendo claro e eu não quero ouvir?
Mas, uma porteira fechada, vamos ser sinceros, nunca impediu ninguém de continuar o caminho de uma trilha que leva até uma cachoeira boa, não é mesmo? Quer dizer, a não ser que lá, do lado de dentro, tenha um touro brabo, na espreita, ou coisa que o valha. Será?
Será que volto? Volto. Chega desse atalho. Sempre tem outros caminhos.
A cachoeira afinal era só uma possibilidade real que eu mesma criei?
Porteira fechada. Mas os vaga lumes ainda estão ali, malditos, piscando.
Sigo.  Peço proteção divina, e, sigo.


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segunda-feira, 11 de junho de 2018

Criando uma imagem para o futuro

Natureza - Feminino
Mulher força criativa e sensual
Mãe - força amorosa
Mãos - corpo - inteireza
Sonhar -Querer -Realizar
ÁRVORE
CRISTAL
MAR
CACHOEIRA
Imagens símbolos
Síntese do complexo
FOGO
TERRA
AR
ÁGUA
ÉTER

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

É tanta coisa

                                   é tanto tempo que falta
                     é tanto amor que não cabe
                                                                 trans... borda


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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

De volta aos meus projetos

De repente  percebi que precisava escrever, precisamente, era isso. Então aqui estou, de volta ao blog, uma coisa minha, ao meu comando, no horário que eu posso, da forma que eu consigo, no tempo que quase não tenho mas que invento. Escrever.
Os dias estão quentes, os Ipês floridos me enchem os olhos, sempre. Amarelos, cheios de alegria, os brancos cheios de paz.  Eles sempre me chamam a ateção. Assim como o som dos pássaros, esse som, grande responsável pela iniciativa que a muito tempo eu protelava, mas que hoje não me escapou.
Muito trabalho ultimamente, muitos projetos na minha área - que bom!
Educação com audiovisual, educomunicação, no caminho para um dia ter o reconhecimento financeiro que todos buscam, e buscando o equilíbrio entre trabalho/família/espiritualidade (de corpo e alma). Mas todos os trabalhos que estão acontecendo agora, nenhum essencialmente meu e isso tem me incomodado muito. Ideias de outros com minha colaboração vão acontecendo e as minhas vão ficando arquivadas pelo obvio motivo de não garantirem o retorno imediato.  Mas dessa vez foi diferente: quarta-feira, 19 de setembro, dia quente, dia seco, único dia da semana e do mês que não tenho compromisso de trabalho fora de casa. Só ficar em casa, cuidar da casa, das filhas, dos bichos e das plantas... Mas quê! Nem arrumei a cama (pra quê) Só mesmo beber água. Que moleeeza... e ainda por cima naqueles dias. Mas claro, fiz o almoço com carinho, levei e busquei na escola, dei água e ração para os  bichos e as plantas.
Enviei alguns emails e dei alguns telefonemas necessários. Ainda passei uma fita mini DV para o  HD, assim os meus alunos poderão editar o material da semana do trânsito (filmado ontem). Olhei para a filmadora emprestada aqui em casa e pensei, hoje dá! Peguei uma fita, peguei a câmera e fui rumo a entrada do super mercado onde sabia que iria encontrar quem eu queria: Anderson, Andinho,  Sabíá, Bentevi... Um rapaz cego, que escuto neste momento, pois escrevo ao mesmo tempo que o material está sendo passado para o computador. Andinho, devoto de São Cosme e Damião, imita pássaros com perfeição, canta, faz piada, dá palestras sobre sua experiencia com as drogas (que o deixaram cego aos 21 anos). Andinho foi muito gentil comigo, cedendo uma entrevista deliciosa, conversamos durante duas horas, na calçada do estacionamento, onde ele fica toda tarde, assoviando e cantando e chamado todas as pessoas de abençoadas. Aceita moedas, aceita gracinhas, faz trabalhos espirituais para quem pede - recebe espíritos, joga capoeira (na casa dele) tem 10 filhos espalhados em quatro cidades. 9, um faleceu a pouco tempo, de tiro. Mora com o irmão, aidético, com um cachorro, um pássaro e um rato de rua, o Chico, que cuida como se fosse um animal de estimação qualquer. Todo dia 27 faz questão de dar muitos doces para as crianças, como forma de demostrar sua devoção a Cosme e Damião. Muitas, muitas histórias... Saí de lá com o corpo cansado e a sensação de que voltava de uma viagem longe, onde aprendi coisas importantes. Abençoada, como ele chama a todos. Fiquei feliz, claro! Combinamos de continuar a filmagem num outro dia, em outros lugares. Dei a ele vinte reais, para ajudar no gás, "que graças a Deus, acabou". Tem lábia, mas tem sinceridade também. Logo irei editar este material. Agora vou ao cinema com as meninas, afinal há de se buscar o equilíbrio. Sempre. Por isso estou de volta aos meus projetos, pois isso só me faz bem!





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domingo, 14 de agosto de 2011

Para meu pai que me ensinou a dirigir e a nadar embaixo d'água

Pai,
já não sou mais a menininha que cabia deitada no banco de trás do seu carro e olhava para o teto tentando adivinhar se a imagem e sensação daquele momento seriam para sempre lembrados...
Sim. Ficaram. Hoje sei que não serão esquecidos os momentos que tiveram essa preocupação, esse cuidado. Não me reconheço naquela menininha loura e bochechuda que só sei que fui pelas fotos que alguém fez, mas reconheço você pelas mãos registradas em imagens fixas e nelas reconheço também minha própria mão. Nossas semelhanças são tantas... Mas não conheço aquela menina que fui. Você sim, a conheceu melhor que eu.

Obedecendo a um ciclo que presumo natural também me reconheço em minha filha que dorme no banco de trás do carro enquanto dirijo fazendo o mesmo trajeto que já fiz tantas outras vezes como sua passageira. Revivo momentos já passados quando me flagro, no mar, ensinando-a a mergulhar por baixo das ondas grandes e esperar que passem, daquele mesmo jeito que você fez comigo um dia, em outra fase de minha vida. E assim é, como ondas que chegam constantemente, que as fases da vida chegam e vamos aprendendo com os pais a passar por baixo das ondas maiores, esperando que elas passem para poder voltar e respirar.
Hoje, dia dos pais, tento passar por baixo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fragmentos bem guardados

De minha infância procuro sempre lembrar dos melhores momentos, que me trazem uma sensação de aconchego. Eu tinha uma ideia fixa com a passagem do tempo, não lembro exatamente quando foi isso, mas sei que foi numa das vezes que devo ter pensado: "não posso esquecer disso (da imagem, da sensação), pois ela é tão boa, tenho que levá-la comigo, de alguma maneira". Então eu acho que conseguia, pelo esforço consciente de querer não esquecer, guardar algumas passagens significativas pra mim: lembro que meus pais viajavam muito comigo, e eu ia deitada no banco de trás do fusquinha e ficava olhando o meio do banco dos dois, (ali onde fica o freio de mão) quando as mãos deles se encontravam, aquilo me fazia bem. Acho que eu tinha uns 5 ou 6 anos. Também lembro de gostar de olhar o teto do fusca, que era branco com bolinhas brancas e dava uma sensação ótica de 3 D. Ver a paisagem passar daquele ponto de vista, deitada, também era muito bom.

Também tenho lembranças mais antigas, do cheiro, da temperatura e do gosto do leite materno. Mamei até quase 4 anos na minha mãe e essa sensação é uma lembrança muito boa.

Já na escolinha, lembro sobretudo de três amigos homens, pouco da professora - tia Mila - e muito do parquinho - teve uma páscoa em que encontrei vários ovos neste parquinho, um em cima do escorregador e um na balança, foi tudo lindo e colorido este dia. Engraçado, não me lembro de nenhuma menina, mas tinham muitas. Lembro de me esconder mais de uma vez junto com meu amigo durante o recreio num terreno com muito mato e ficávamos lá até acabar a aula (isso me rendeu uns castigos de, no máximo, 5 minutos, pois a aula já tinha acabado e não havia tempo para os castigos). Na minha memória aquele mato era todo amarelo, talvez um milharal - quem disse que as imagens do passado são em preto e branco? Pra mim, são vivas, pintadas de sons e cheiros e sempre com uma cor predominante. Não havia malícia, não havia medo de nada, só a sensação de querer desafiar, de não querer obedecer o comando do sinal que ia nos mandar voltar para sala de aula - nós gostavamos da escola, mas ficar no mato escondido, passando calor e coceiras era muito melhor, afinal estávamos por nossa conta e risco ali.

Desses amigos da escolinha, um em especial se tornou um grande amigo pois morávamos perto. Com ele tenho muitas lembranças boas: subir numa jabuticabeira e comer muitas jabuticabas. Subir no telhado da minha casa, de pés descalços e ver a Serra da Mantiqueira - nossa que sensação de liberdade! Minha mãe chamando a gente e a gente lá quieto, pra ela não saber que a gente tinha subido, pois era proibido. Gostávamos de inventar mentiras também, um para o outro, e nossas ficções eram tão bem construídas que quase viravam verdade para nós mesmos. Também entrávamos no forro de casa para explorar, aquele lugar escuro e com cara de abandonado era perfeito para nossa imaginação de pequenos exploradores.

Lembro dos dias de chuva, de brincar sozinha, com meia nos pés, fazer uma cabaninha com colchão e cobertores perto da janela (para ver a chuva da minha barraca), e ficar morando ali, uma vida inteira, no quentinho e com o som da chuva, de olho nos sons da cozinha que prometiam gostosuras quentinhas também.

Da casa da minha avó materna também lembro um pouco, sobretudo das mãos delas espremendo cenoura ralada numa redinha para me dar o suco. Ela também me fez engolir uma gema crua uma vez, irc... é como se eu engolisse ainda agora...

Lembro bem da mão gordinha, enrugada e quente da minha bisavó paterna, fazendo cruzinhas na minha testa, passando as mãos pelos meus braços, nestes movimentos de benção e descarrego carinhosos. Lembro muito dos meus bisavós, o carinho deles por mim era quase algo material, de tão forte. Lembro do cheiro deles, da pele, até das unhas, da papadinha da minha bisavó que eu gostava de passar a mão... Lembro-me do meu bisavô se aplicando injeções de insulina na perna e na barriga (aquilo era muito impressionante para uma menininha), lembro do jeito que ele me chamava: Auirinha... e de muitos detalhes de texturas, cheiros, cores e sons do apartamento deles, em São Paulo.
Havia também os acampamentos que fazia com meus pais, em praias, Trindade era linda, deserta, e era possível acampar na areia, de frente pro mar. Lembro de deitar à noite sobre o carro e ver a estrelas deslumbrada, junto com meu pai. Lembro-me de algumas estrelas cadentes, mas nunca dos pedidos que fiz.
Teve uma tempestade da qual me lembro de alguns flashes: meus pais em pé, tentando segurar a barraca para ela não voar, muito barulho de vento e chuva e das ondas batendo forte e eu deitada, muito assustada olhando e sentindo tudo aquilo, uma confiança enorme nos pais.

Lembro-me do mar, numa manhã de sol, assim que chegamos na praia e eu corri sozinha até a beira do mar, e ver toda aquela praia me invadindo de cheiros, arrepios, texturas e enchendo os meus olhos e de eu querer guardar aquilo pra sempre dentro de mim.
Acho que daí é que veio meu amor pela fotografia, o vídeo, o cinema. Que vieram bem mais tarde.

Texto para a oficina de audiovisual do NAPA


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domingo, 3 de abril de 2011

Mamãozinhos

Tanto tempo sem vir por aqui...
- Mas os novos mamãozinhos brotando espontaneamente no meu quintal me lembraram que eu também tenho uma existência.
Hora de voltar... E eu nem sabia que o mamão nasce no meio da flor. Ele é o miolo da flor.
Lindo!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Fomos na BIENAL no dia da Deusa KALI




17 de Outubro de 2010
KALI
INÍCIOS E TÉRMINOS
O velho deve ser liberado de modo que o novo possa entrar.

“Eu louvo aqueles cujos corações aceitam a ordem universal, que somente parece ser caótica e em constante mudança. Na verdade, tudo é projetado até o ínfimo pormenor, para que esteja em perfeito funcionamento. A dança do universo é muito apropriada, com energia girando e rodopiando, em uma eterna celebração à própria vida. Participe desta dança, querido, e aprecie a fantástica jornada da elaboração da história de sua vida. Não tema o que parece ser uma mudança ou uma perda. É somente a órbita da transição interagindo com você e com os seus entes queridos. Aceite-a como evidência de que você está vivo! Aceite as suas emoções mais intensas como um sinal de sua verdadeira essência humana!”


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Acordando cedo e zen

Uahhh! Como espreguiçar é bom!
Acordo sempre com os olhos secos, difícil de abrir... Tenho que esperar os primeiros bocejos que fazem meus olhos produzirem lágrimas, ou, quando tenho pressa, pingar um colírio feito para isso, em forma de gel, gostoso.
Minha função desde o início do ano é levar a Verena na escola, ela entra as 7 horas, então já viu... Mas é cedo que o dia está mais lindo, são tão rápidos os minutos mais belos (tirando os dias frios, chuvosos e cinzentos, claro). Que bom que existe a fotografia, mas nada substitui de fato estar ali e ver acontecer, na hora. Como é o caso dessa flor, do quintal de casa, quando nós saímos ela ainda está querendo abrir, quando volto, 20 minutos depois, já estão todas abertas, lindas, mas esse momento delas estarem gordinhas, se preparando para abrirem, espreguiçando... é o máximo! A noite elas somem, num botão bem apertadinho, ninguém diz que tem uma flor ali, parece só uma folhagem.
Comecei a fazer Yoga, que coisa boa, consciência na respiração muda a gente, não quero mais nada. Computador é um veneno para a coluna e para os olhos; Temos que aprender a maneirar com isso... Já fico tempo demais trabalhando no computador, e quando acabo quero sair, ir colher amoras na rua, passear com as cachorras, fazer coisas diferentes. Mas hoje, eu não resisti. Essa flor acordando não é demais? (Eu continuo gostando do blog e, de fato, preciso achar mais tempo para ele, quem sabe quando essa pauleira de trabalho no computador dê um tempo)

sábado, 18 de setembro de 2010

Esperança

Como disse na ultima postagem, parei para fotografar melhor uma das minhas árvores preferidas:


Na esperança que um dia ela voltar a ficar assim:

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tristeza

Eu tinha um prazer secreto em pegar a estrada de São José dos Campos até Taubaté, somente para admirar a árvore que fotografei há uns anos atrás, linda, na beira da Dutra, com todas as raizes e galhos à mostra. Mas, na semana passada, passei por ela e só lhe restavam as raizes... O tronco e os galhos foram estupidamente cortados, decepados, em mais uma demonstração, entre tantas outras, de como os homens podem ser realmente estúpidos e ignorantes.
Ah, se eu pudesse, colocava ela no carro e levava comigo e não deixava nenhum outro idiota se aproximar. Mas só posso fotografar... Essa foto foi feita em movimento de dentro do carro, mas pretendo ainda nesta semana parar para fotografar direito e enviar um e mail de protesto para a Dutra, afinal eu pago os pedágios e gostaria que pelo menos as árvores que posso ver enquanto dirijo fossem preservadas.

Vejam a postagem com a foto da árvore forida aqui e vejam agora como ficou
...
Não é revoltante?!
Mas eis que ela insiste na vida e já começam a renascer suas folhas...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sibipiruna

Por aqui, a maior correria, mas sempre, prestando muita\ atenção nas árvores. As pitangas já começaram a brotar timidamente, mas as amoras estao completamente sem vergonhas. Hoje conseguimos, eu e a Lu, nos encher a ponto de ficarmos com as mãos e bocas todas vermelhas. Dilícia! Mas o show mesmo vai ficar por conta desta Sibipiruna de Taubaté, que flagrei quando estava abastecendo o carro no posto. Linda!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dois anos e uma surpresa no quintal

Hoje faz dois anos que nossa família se uniu oficialmente, dois anos de casório e eu lá na cama, curtindo ainda o gostinho dos beijos e o sono de quem pode se dar ao luxo de não precisar levantar às 6:30 para levar a filha no primeiro dia de aula pós-férias, já que o marado se ofereceu para fazê-lo. Sete horas da manhã, e um barulho de chuveiro elétrico ligado no quente-pelando há mais de 20 minutos não me deixando dormir, não é possível... Virei a cabeça pro outro lado e percebi: não era chuveiro, era um enxame. Abelhas! E bem ao lado da janela do quarto. Levantei-me e abri a janela: uau! Um cheiro delicioso invadiu o quarto e a visão da pitangueira repleta de florzinhas brancas, como um buquê gigante encheu meus olhos. Sim, claro, as abelhas também vieram em peso conferir o doce mel deste buquê do meu quintal. Mas, não ligo de dividir nosso presente, ao contrário, compartilho o acontecimento das flores e das abelhas, mas este cheiro gostoso só quem vier aqui em casa poderá conferir; então já fica aqui o convite: venham!



sábado, 17 de julho de 2010

Ilusão?

Nunca ninguém me respondeu se as nuvens eram ou não de algodão doce. Que bom, assim elas continuam sendo.

Atualizar é viver!

Pois é, o blog cada vez mais sai da lista de prioridades... Como sempre protelado...
Amanhã vou ficar uma semana no sítio Vagalume das Águas Claras, Sul de Minas, sem computador, sem internet, e na volta, julho já se foi... De qualquer forma preciso mesmo de um tempo para ler mais, dormir mais, comer mais e conversar mais com pessoas queridas. Não que não tenha feito isso nos ultimos dias, é até injusto dizer que estou precisando de férias. Mesmo assim, não sei se quando voltar virei direto para o blog colocar as fotos que sei que vou fazer por lá; Difícil. Provalvelmente vão ficar pra depois que eu fizer coisas mais urgentes que se acumularão nesta semana de ausencia. Então, pra não deixar acumular tanto assim, resolvi dar uma limpa na máquina e encontrei tanta foto legal de junho e julho que deveria ter compartilhado aqui. Bom, encurtando o papo, antes tarde do que nunca; Seguem algumas de alguns dos melhores momentos dos últimos dois meses( ou pelo menos dos que foram fotografados):

Aniversário junino de-li-ci-o-so da Vitória!

Ainda no aniversário da Vitória, crianças se preparando para a corrida de sacos, se divertido, e curtindo os vestidos, claro!

O Brasil ficou só nas cores das unhas...
Quando esse trio se encontra temos que registrar: Lucio, Washinton e Wallace, no sofá de casa, na festinha que fizemos para receber o Juliano.
Amigos na cozinha, curtindo um café com rapadura, conversas divertidas, caldinho de feijão, canjica, hum! Foi boommm...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pequenos prazeres domésticos

Depois de um fim de semana com a casa cheia de amigos, crianças, comidas e bebidas, acordar numa segunda feira ensolarada, com ótimo humor, ver a pia da cozinha limpa (toda louça lavada durante a noite). Colocar o lixo para fora, organizado em caixas, cada uma com seu item: garrafas, latinhas, plásticos e papéis, e assistir o caminhão do "Recicla São José" levar tudo embora. Sair em seguida e pegar o pão quentinho na padaria, passar o café e tomá-lo no silencio da casa com crianças dormindo, lendo sobre a vida do Amyr Klink e preparando o espírito para finalmente viajar na semana quem vem.
Coisa boa!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Um minuto para olhar o céu

Mas, seja rápido e olhe mesmo, pois a cena não se repete jamais. E fotografia não é céu. Por falar nisso está uma lua linda lá fora.



quarta-feira, 12 de maio de 2010

De volta as fotos!

Hoje após a segunda aula da Oficina Ver Fazer e Pensar Fotografia, na volta pra casa, dirigindo o carro com certa pressa para pegar a Lu na escolinha, não deu, com essa luz de final de tarde é covardia... Tive que parar o carro na estrada para fazer umas fotinhos também. Nesta, a mãe da placa parece estar dizendo:
- Olha que céu lindo, filha!"

Outras fotos deste dia no encantoar.blogspot.com

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